quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Porf. Mara Rute Comenta a Obra I Juca Pirama para o vestibular da UESC

Olá....
Segue o material de I Juca Pirama e algumas questões de Periodização. Não se esqueça que na obra não haverá somente obras.

Primeiras Palavras:
Para trabalhar bem essa obra é preciso ter em mente a importância dela no contexto de  construção da literatura brasileira. Ela representa a primeira tentativa de construção do herói nacional no momento em que estávamos nos  transformando  em  nação. Entender Juca –Pirama isolado de  seu contexto literário (Romantismo) e dos objetivos de  seu  autor ( Gonçalves Dias – 1º geração romântica) é deixar passar elementos essenciais na construção dessa obra.
Diferente  do que  vocês imaginam   o livro  Juca Pirama só tem de difícil a linguagem, não muito comum a nós. Para facilitar sua compreensão antes de ler o livro leia algum comentário sobre a história. Assim você se  localizará melhor  quando estiver  fazendo  sua  leitura.
Procure, quando estiver lendo, fazer anotações sobre o que você entendeu e sobre possíveis perguntas para o vestibular. Não deixe de anotar, assim, quando você precisar revisitar o texto já  vai ser  de  uma maneira mais  fácil.

Vale ressaltar que o tema desse livro abre leque para uma série de  discussões ressalto aqui algumas  para você começar  a refletir quando estiver  lendo:
1.     Macunaíma  é uma construção de herói  que  tenta corrigir o índio que os  românticos apresentaram  como herói.
2.     O índio do Romantismo é diferente do índio do Quinhentismo?  Tentar estabelecer relações. Leia pelo menos um resumo da prosa indianista alencariana.
3.     Caramuru – a  invenção do Brasil (filme  e livro ) também relata de  ritual antropofágico. O que há de diferente?
4.     Qual a situação do índio hoje?
5.     Veja que o índio do texto é típico herói romantizado, perfeito, sem mácula que desperta bons sentimentos no homem burguês leitor. Aproveite e pesquise um pouco sobre a entrada dessa burguesia na leitura do século XIX. A literatura teve que se adaptar a ela de que maneira?
“ I –Juca – Pirama”, poema escolhido pela UESC para o seu vestibular de 2012, integra o livro Últimos Cantos e deve ter sido escrito entre 1848 e 1851, ano da publicação de Últimos Cantos, ou seja cerca de 161 anos atrás.


I-Juca-Pirama[1]

I

No meio das tabas de amenos verdores, [2]

Cercadas de troncos — cobertos de flores,

Alteiam-se os tetos d’altiva nação;

São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,

Temíveis na guerra, que em densas coortes

Assombram das matas a imensa extensão.

São rudos, severos, sedentos de glória,

Já prélios incitam, já cantam vitória,

Já meigos atendem à voz do cantor:

São todos Timbiras, guerreiros valentes!

Seu nome lá voa na boca das gentes[3],

Condão de prodígios, de glória e terror!



As tribos vizinhas, sem forças, sem brio,

As armas quebrando, lançando-as ao rio,

O incenso aspiraram dos seus maracás:

Medrosos das guerras que os fortes acendem,

Custosos tributos ignavos lá rendem,

Aos duros guerreiros sujeitos na paz.



No centro da taba se estende um terreiro,

Onde ora se aduna o concílio guerreiro

Da tribo senhora, das tribos servis:

Os velhos sentados praticam d’outrora,

E os moços inquietos, que a festa enamora,

Derramam-se em torno dum índio infeliz.



Quem é? — ninguém sabe: seu nome é ignoto,

Sua tribo não diz: — de um povo remoto

Descende por certo — dum povo gentil;[4]

Assim lá na Grécia ao escravo insulano

Tornavam distinto do vil muçulmano

As linhas corretas do nobre perfil.



Por casos de guerra caiu prisioneiro

Nas mãos dos Timbiras[5]: — no extenso terreiro

Assola-se o teto, que o teve em prisão;

Convidam-se as tribos dos seus arredores,

Cuidosos se incubem do vaso das cores,

Dos vários aprestos da honrosa função.



Acerva-se a lenha da vasta fogueira

Entesa-se a corda da embira[6] ligeira,

Adorna-se a maça com penas gentis:

A custo, entre as vagas do povo da aldeia

Caminha o Timbira, que a turba rodeia,

Garboso nas plumas de vário matiz.



Em tanto as mulheres com leda trigança,

Afeitas ao rito da bárbara usança,

O índio já querem cativo acabar:

A coma lhe cortam, os membros lhe tingem,

Brilhante enduape[7] no corpo lhe cingem,

Sombreia-lhe a fronte gentil canitar,



II

Em fundos vasos d’alvacenta argila

       Ferve o cauim;

Enchem-se as copas, o prazer começa[8],

       Reina o festim.

O prisioneiro, cuja morte anseiam,

       Sentado está,

O prisioneiro, que outro sol no ocaso

       Jamais verá!



A dura corda, que lhe enlaça o colo,

       Mostra-lhe o fim

Da vida escura, que será mais breve

       Do que o festim!



Contudo os olhos d’ignóbil pranto

       Secos estão[9];

Mudos os lábios não descerram queixas

       Do coração.



Mas um martírio , que encobrir não pode,

       Em rugas faz

A mentirosa placidez do rosto

       Na fronte audaz!



Que tens, guerreiro? Que temor te assalta

       No passo horrendo?

Honra das tabas que nascer te viram,

       Folga morrendo[10].



Folga morrendo[11]; porque além dos Andes

       Revive o forte,

Que soube ufano contrastar os medos

       Da fria morte.



Rasteira grama, exposta ao sol, à chuva,

       Lá murcha e pende:

Somente ao tronco, que devassa os ares,

       O raio ofende!



Que foi? Tupã mandou que ele caísse,

       Como viveu;

E o caçador que o avistou prostrado

       Esmoreceu!



Que temes, ó guerreiro? Além dos Andes

       Revive o forte,

Que soube ufano contrastar os medos

       Da fria morte.



III

Em larga roda de novéis guerreiros

Ledo caminha o festival Timbira,

A quem do sacrifício cabe as honras,

Na fronte o canitar sacode em ondas,

O enduape na cinta se embalança,

Na destra mão sopesa a iverapeme,

Orgulhoso e pujante. — Ao menor passo

Colar d’alvo marfim, insígnia d’honra,

Que lhe orna o colo e o peito, ruge e freme,

Como que por feitiço não sabido

Encantadas ali as almas grandes

Dos vencidos Tapuias, inda chorem

Serem glória e brasão d’imigos feros.

"Eis-me aqui", diz ao índio prisioneiro;

"Pois que fraco, e sem tribo, e sem família,

"As nossas matas devassaste ousado,

"Morrerás morte vil da mão de um forte."



Vem a terreiro o mísero contrário;

Do colo à cinta a muçurana desce:

"Dize-nos quem és, teus feitos canta,

"Ou se mais te apraz, defende-te." Começa

O índio, que ao redor derrama os olhos,

Com triste voz que os ânimos comove[12].



IV

Meu canto de morte,

Guerreiros, ouvi:

Sou filho das selvas,

Nas selvas cresci;

Guerreiros, descendo

Da tribo tupi.

Da tribo pujante,

Que agora anda errante

Por fado inconstante,

Guerreiros, nasci;

Sou bravo, sou forte,

Sou filho do Norte;

Meu canto de morte,

Guerreiros, ouvi.



Já vi cruas brigas,

De tribos imigas,

E as duras fadigas

Da guerra provei;

Nas ondas mendaces

Senti pelas faces

Os silvos fugaces

Dos ventos que amei.



Andei longes terras

Lidei cruas guerras,

Vaguei pelas serras

Dos vis Aimoréis;

Vi lutas de bravos,

Vi fortes — escravos!

De estranhos ignavos

Calcados aos pés.



E os campos talados,

E os arcos quebrados,

E os piagas coitados

Já sem maracás;

E os meigos cantores,

Servindo a senhores,

Que vinham traidores,

Com mostras de paz.



Aos golpes do imigo[13],

Meu último amigo,

Sem lar, sem abrigo

Caiu junto a mi!

Com plácido rosto,

Sereno e composto,

O acerbo desgosto

Comigo sofri.



Meu pai a meu lado

Já cego e quebrado,

De penas ralado,

Firmava-se em mi:

Nós ambos, mesquinhos,

Por ínvios caminhos,

Cobertos d’espinhos

Chegamos aqui!



O velho no entanto

Sofrendo já tanto

De fome e quebranto,

Só qu’ria morrer!

Não mais me contenho,

Nas matas me embrenho,

Das frechas que tenho

Me quero valer[14].



Então, forasteiro,

Caí prisioneiro

De um troço guerreiro

Com que me encontrei:

O cru dessossêgo

Do pai fraco e cego,

Enquanto não chego

Qual seja, — dizei!



Eu era o seu guia

Na noite sombria,

A só alegria

Que Deus [15]lhe deixou:

Em mim se apoiava,

Em mim se firmava,

Em mim descansava,

Que filho lhe sou.



Ao velho coitado

De penas ralado,

Já cego e quebrado,

Que resta? — Morrer.

Enquanto descreve

O giro tão breve

Da vida que teve,

Deixai-me viver!



Não vil, não ignavo,

Mas forte, mas bravo,

Serei vosso escravo:

Aqui virei ter.

Guerreiros, não coro

Do pranto que choro[16]:

Se a vida deploro,

Também sei morrer.



V

Soltai-o! — diz o chefe. Pasma a turba[17];

Os guerreiros murmuram: mal ouviram,

Nem pode nunca um chefe dar tal ordem!

Brada segunda vez com voz mais alta,

Afrouxam-se as prisões, a embira cede,

A custo, sim; mas cede: o estranho é salvo.

Timbira, diz o índio enternecido,

Solto apenas dos nós que o seguravam:

És um guerreiro ilustre, um grande chefe,

Tu que assim do meu mal te comoveste[18],

Nem sofres que, transposta a natureza,

Com olhos onde a luz já não cintila,

Chore a morte do filho o pai cansado,

Que somente por seu na voz conhece.

— És livre; parte.

      — E voltarei.

             — Debalde.

— Sim, voltarei, morto meu pai.

             — Não voltes!

É bem feliz, se existe, em que não veja,

Que filho tem, qual chora: és livre; parte!

— Acaso tu supões que me acobardo,

Que receio morrer!

       — És livre; parte!

— Ora não partirei; quero provar-te

Que um filho dos Tupis vive com honra,

E com honra maior, se acaso o vencem,

Da morte o passo glorioso afronta.



— Mentiste, que um Tupi não chora nunca,

E tu choraste!... parte; não queremos

Com carne vil enfraquecer os fortes.



Sobresteve o Tupi: — arfando em ondas

O rebater do coração se ouvia

Precípite. — Do rosto afogueado

Gélidas bagas de suor corriam:

Talvez que o assaltava um pensamento...

Já não... que na enlutada fantasia,

Um pesar, um martírio ao mesmo tempo,

Do velho pai a moribunda imagem

Quase bradar-lhe ouvia: — Ingrato! Ingrato!

Curvado o colo, taciturno e frio.

Espectro d’homem, penetrou no bosque!



VI

— Filho meu, onde estás?

             — Ao vosso lado;

Aqui vos trago provisões; tomai-as,

As vossas forças restaurai perdidas,

E a caminho, e já!

             — Tardaste muito!

Não era nado o sol, quando partiste[19],

E frouxo o seu calor já sinto agora!

— Sim demorei-me a divagar sem rumo,

Perdi-me nestas matas intrincadas,

Reaviei-me e tornei; mas urge o tempo;

Convém partir, e já!

             — Que novos males

Nos resta de sofrer? — que novas dores,

Que outro fado pior Tupã nos guarda?

— As setas da aflição já se esgotaram,

Nem para novo golpe espaço intacto

Em nossos corpos resta.

             — Mas tu tremes!

— Talvez do afã da caça....

             — Oh filho caro!

Um quê misterioso aqui me fala,

Aqui no coração; piedosa fraude

Será por certo, que não mentes nunca!

Não conheces temor, e agora temes?

Vejo e sei: é Tupã que nos aflige,

E contra o seu querer não valem brios.

Partamos!... —

       E com mão trêmula, incerta

Procura o filho, tateando as trevas

Da sua noite lúgubre e medonha.

Sentindo o acre odor das frescas tintas,

Uma idéia fatal ocorreu-lhe à mente...

Do filho os membros gélidos apalpa,

E a dolorosa maciez das plumas

Conhece estremecendo: — foge, volta,

Encontra sob as mãos o duro crânio,

Despido então do natural ornato[20]!...

Recua aflito e pávido, cobrindo

Às mãos ambas os olhos fulminados,

Como que teme ainda o triste velho

De ver, não mais cruel, porém mais clara,

Daquele exício grande a imagem viva

Ante os olhos do corpo afigurada.

Não era que a verdade conhecesse

Inteira e tão cruel qual tinha sido;

Mas que funesto azar correra o filho,

Ele o via; ele o tinha ali presente;

E era de repetir-se a cada instante.

A dor passada, a previsão futura

E o presente tão negro, ali os tinha;

Ali no coração se concentrava,

Era num ponto só, mas era a morte!

— Tu prisioneiro, tu?

             — Vós o dissestes.

— Dos índios?

      — Sim.

             — De que nação?

                    — Timbiras.

— E a muçurana funeral rompeste,

Dos falsos manitôs quebraste a maça...

— Nada fiz... aqui estou.

      — Nada! —

             Emudecem;

Curto instante depois prossegue o velho:

— Tu és valente, bem o sei; confessa,

Fizeste-o, certo, ou já não fôras vivo!

— Nada fiz; mas souberam da existência

De um pobre velho, que em mim só vivia....

— E depois?...

      — Eis-me aqui.

             — Fica essa taba?



— Na direção do sol, quando transmonta.

— Longe?

      — Não muito.

             — Tens razão: partamos.

— E quereis ir?...

      — Na direção do acaso.



VII

"Por amor de um triste velho,

Que ao termo fatal já chega,

Vós, guerreiros, concedestes

A vida a um prisioneiro.

Ação tão nobre vos honra,

Nem tão alta cortesia

Vi eu jamais praticada

Entre os Tupis, — e mas foram

Senhores em gentileza.

"Eu porém nunca vencido,

Nem nos combates por armas,

Nem por nobreza nos atos;

Aqui venho, e o filho trago.

Vós o dizeis prisioneiro,

Seja assim como dizeis;

Mandai vir a lenha, o fogo,

A maça do sacrifício

E a muçurana ligeira:

Em tudo o rito se cumpra!

E quando eu for só na terra,

Certo acharei entre os vossos,

Que tão gentis se revelam,

Alguém que meus passos guie;

Alguém, que vendo o meu peito

Coberto de cicatrizes,

Tomando a vez de meu filho,

De haver-me por pai se ufane![21]"

Mas o chefe dos Timbiras,

Os sobrolhos encrespando,

Ao velho Tupi guerreiro

Responde com tôrvo acento:



— Nada farei do que dizes:

É teu filho imbele e fraco!

Aviltaria o triunfo

Da mais guerreira das tribos

Derramar seu ignóbil sangue:

Ele chorou de cobarde;

Nós outros, fortes Timbiras,

Só de heróis fazemos pasto. —



Do velho Tupi guerreiro

A surda voz na garganta

Faz ouvir uns sons confusos,

Como os rugidos de um tigre,

Que pouco a pouco se assanha!



VIII[22]

"Tu choraste em presença da morte?

Na presença de estranhos choraste?

Não descende o cobarde do forte;

Pois choraste, meu filho não és!

Possas tu, descendente maldito

De uma tribo de nobres guerreiros,

Implorando cruéis forasteiros,

Seres presa de vis Aimorés.

"Possas tu, isolado na terra,

Sem arrimo e sem pátria vagando,

Rejeitado da morte na guerra,

Rejeitado dos homens na paz,

Ser das gentes o espectro execrado;

Não encontres amor nas mulheres,

Teus amigos, se amigos tiveres,

Tenham alma inconstante e falaz!



"Não encontres doçura no dia,

Nem as cores da aurora te ameiguem,

E entre as larvas da noite sombria

Nunca possas descanso gozar:

Não encontres um tronco, uma pedra,

Posta ao sol, posta às chuvas e aos ventos,

Padecendo os maiores tormentos,

Onde possas a fronte pousar.



"Que a teus passos a relva se torre;

Murchem prados, a flor desfaleça,

E o regato que límpido corre,

Mais te acenda o vesano furor;

Suas águas depressa se tornem,

Ao contacto dos lábios sedentos,

Lago impuro de vermes nojentos,

Donde fujas com asco e terror!



"Sempre o céu, como um teto incendido,

Creste e punja teus membros malditos

E oceano de pó denegrido

Seja a terra ao ignavo tupi!

Miserável, faminto, sedento,

Manitôs lhe não falem nos sonhos,

E do horror os espectros medonhos

Traga sempre o cobarde após si.



"Um amigo não tenhas piedoso

Que o teu corpo na terra embalsame,

Pondo em vaso d’argila cuidoso

Arco e frecha e tacape a teus pés!

Sê maldito, e sozinho na terra;

Pois que a tanta vileza chegaste,

Que em presença da morte choraste,

Tu, cobarde, meu filho não és."



IX

Isto dizendo, o miserando velho

A quem Tupã tamanha dor, tal fado

Já nos confins da vida reservara,

Vai com trêmulo pé, com as mãos já frias

Da sua noite escura as densas trevas

Palpando. — Alarma! alarma! — O velho pára!

O grito que escutou é voz do filho,

Voz de guerra que ouviu já tantas vezes

Noutra quadra melhor. — Alarma! alarma!

— Esse momento só vale a pagar-lhe

Os tão compridos transes, as angústias,

Que o frio coração lhe atormentaram

De guerreiro e de pai: — vale, e de sobra.

Ele que em tanta dor se contivera,

Tomado pelo súbito contraste,

Desfaz-se agora em pranto copioso,

Que o exaurido coração remoça.



A taba se alborota, os golpes descem,

Gritos, imprecações profundas soam,

Emaranhada a multidão braveja,

Revolve-se, enovela-se confusa,

E mais revolta em mor furor se acende.

E os sons dos golpes que incessantes fervem,

Vozes, gemidos, estertor de morte

Vão longe pelas ermas serranias

Da humana tempestade propagando

Quantas vagas de povo enfurecido

Contra um rochedo vivo se quebravam.



Era ele, o Tupi; nem fora justo

Que a fama dos Tupis — o nome, a glória,

Aturado labor de tantos anos,

Derradeiro brasão da raça extinta,

De um jacto e por um só se aniquilasse.



— Basta! Clama o chefe dos Timbiras,

— Basta, guerreiro ilustre! Assaz lutaste,

E para o sacrifício é mister forças. —



O guerreiro parou, caiu nos braços

Do velho pai, que o cinge contra o peito,

Com lágrimas de júbilo bradando[23]:

"Este, sim, que é meu filho muito amado!



"E pois que o acho enfim, qual sempre o tive,

"Corram livres as lágrimas que choro,

"Estas lágrimas, sim, que não desonram."



X

Um velho Timbira, coberto de glória,

      Guardou a memória

Do moço guerreiro, do velho Tupi!

E à noite, nas tabas, se alguém duvidava

      Do que ele contava,

Dizia prudente: — "Meninos, eu vi!

"Eu vi o brioso no largo terreiro

      Cantar prisioneiro

Seu canto de morte, que nunca esqueci:

Valente, como era, chorou sem ter pejo;

      Parece que o vejo,

Que o tenho nest’hora diante de mi.



"Eu disse comigo: Que infâmia d’escravo!

      Pois não, era um bravo;

Valente e brioso, como ele, não vi!

E à fé que vos digo: parece-me encanto

      Que quem chorou tanto,

Tivesse a coragem que tinha o Tupi!"



Assim o Timbira, coberto de glória,

      Guardava a memória

Do moço guerreiro, do velho Tupi.

E à noite nas tabas, se alguém duvidava

      Do que ele contava,

Tornava prudente: "Meninos, eu vi![24]".





VOCABULÁRIO



Acerbo: azedo; áspero; cruel; desabrido;

Cervar-se: fazer montes; acúmulos; grandes quantidades;



Acobardo: acobardar; amedrontar; perder o ânimo;

Adunar: reunir em um só; incorporar; congregar;

Alborotar: alvoroçar; agitar; assustar; entusiasmar; entrasismar; entrar a fêmea no cio;

Assaz: bastante; suficientemente;

Bagas: gota;fruto carnoso indeiscente;

Canitar: penacho; enfeite de penas; adorno para cabeça que os índios usavam nas suas solenidades;

Cauim: espécie de bebida preparada com a mandioca cozida e fermentada;

Coma: cabeleira; juba; crinas; penacho; franças;

Embira: qualquer casca ou cipó usado no mato para amarrar;

Enduape: rodela de penas usadas nas nádegas pelos Tupinambás;

Entesar: tornar direito; esticar; enrijar;

Execrado (execrar): detestar; abominar; amaldiçoar; desejar mal (a alguém);

Exício: perdição; ruína; morte;

Falaz: ardiloso; fraudulento; enganador;

Fugaces: fugaz – que foge com rapidez; rápido; veloz e transitório;

Ignavo: idolente; fraco; covarde;

Ignóbil : que não tem nobreza; vil; baixo; desprezível;

Imbele: que não é belicioso; tímido;

Imprecação: praga; maldição;

Ínvios: em que não há caminho; intransitável;

Ivepereme (ivirapeme): tacape (clara aos sacrifícios humanos, entre os índios;

Ledo: risonho; contente; alegre; jubiloso;

Lúgubre: relativo a luto; fúnebre; triste;

Maça: clava – instrumento de maçar linho;

Manitôs: designação que os índios algonquinos da América do Norte dão a uma força mágica não personificada, mas inerente a todas as coisas; pessoas; fenômenos naturais e atividades; gênio tutelar;

Maracás: instrumento cocalhante que os índios usavam nas solenidades religiosas e guerreiras;

Mendaces: mendaz – mentiroso; falso;

Mister: ocupação; emprego; serviço; trabalho; urgência; necessidade; aquilo que é forçoso;

Mor: forma sincopada de maior;

Muçurana: cobra; corda com que os índios atavam os prisioneiros;

Nóvel: novo; inexperiente; imperito; bisonho; principalmente;

Pejo: pudor; vergonha; acabamento; impedimento;

Piagas: pajé – chefe espiritual dos índios;

Prélio: batalha; luta; peleja;

Pujante: que tem grande força;

Punjir: ferir; picar; causar grande dor mortala; afligir; toturar;

Rudo: rude;

Sobrestar: não prosseguir; passar; cessar; deter-se;

Sobrolho: preocupação; atenção; sobrancelha;

Sopesar: tomar o peso de... com mão; suspender com a mão;

Taciturno: tristonho; que fala pouco; silencioso;

Talar: destruir; devastar;

Torvo: que causa terror; de aspecto carrancudo; pavoroso;

Transmontar: passar por cima de; ultrapassar, exceder muito, ser superior a;

Trigança: pressa; diligência;

Turba: multidão em desordem; muitas pessoas reunidas; o povo;

Ufanar: regizijar; orgulhar-se de;

Urgir: ser preciso sem demora; fazer exigência;

Versano: demente; insensato; delirante.





Juca – Pirama

Roteiro de  Estudo



I

No meio das tabas de amenos verdores,

Cercadas de troncos — cobertos de flores,

Alteiam-se os tetos d’altiva nação;

São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,

Temíveis na guerra, que em densas coortes

Assombram das matas a imensa extensão.

São rudos, severos, sedentos de glória,

Já prélios incitam, já cantam vitória,

Já meigos atendem à voz do cantor:

São todos Timbiras, guerreiros valentes!

Seu nome lá voa na boca das gentes,

Condão de prodígios, de glória e terror!



As tribos vizinhas, sem forças, sem brio,

As armas quebrando, lançando-as ao rio,

O incenso aspiraram dos seus maracás:

Medrosos das guerras que os fortes acendem,

Custosos tributos ignavos lá rendem,

Aos duros guerreiros sujeitos na paz.

1. O trecho acima apresenta a descrição  do grupo que aprisionou ou do grupo a que pertencia Juca-Pirama.

 a) Transcreva versos que comprovem a descrição como seguidora do ideal apresentado por Gonçalves Dias na Primeira geração Romântica.

b) O que se poderia entender do verso “ seu nome lá voa na boca das gentes”?



Quem é? — ninguém sabe: seu nome é ignoto,

Sua tribo não diz: — de um povo remoto

Descende por certo — dum povo gentil;

Assim lá na Grécia ao escravo insulano

Tornavam distinto do vil muçulmano

As linhas corretas do nobre perfil.



2.  As impressões que os guerreiros tiveram de Juca- Pirama estavam certas? Justifique com bases na narrativa.



Que tens, guerreiro? Que temor te assalta

       No passo horrendo?

Honra das tabas que nascer te viram,

       Folga morrendo.



Folga morrendo; porque além dos Andes

       Revive o forte,

Que soube ufano contrastar os medos

       Da fria morte.

3. É correto afirmar que o valor apresentado acima difere do nosso modelo social? Justifique.



"Dize-nos quem és, teus feitos canta,

"Ou se mais te apraz, defende-te." Começa

O índio, que ao redor derrama os olhos,

Com triste voz que os ânimos comove.

4. A resposta para esse questionamento constrói o canto IV do poema Juca-Pirama. Releia-o e apresente uma resposta para os questionamentos acima.





Assim o Timbira, coberto de glória,

      Guardava a memória

Do moço guerreiro, do velho Tupi.

E à noite nas tabas, se alguém duvidava

      Do que ele contava,

Tornava prudente: "Meninos, eu vi!".

5. Qual a importância dessa personagem na história?



6. Comente sobre a construção estrutural e temática da obra.



7. Retire um trecho que comprove que o foco narrativo é em terceira pessoa.



8. Juca Pirama nos dá uma visão mais próxima do índio, ligado aos seus costumes, convenhamos dizer que ainda é muito idealizado e moldado ao gosto romântico. Apresente elementos do romantismo presentes no texto.



Texto I

A CARTA DE CAMINHA

Carta ao Rei de portugal

Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis

Com cabelos mui pretos pelas espáduas

E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas

Que de nós as muito bem olharmos

Não tínhamos nenhuma vergonha

(Pero Vaz de  Caminha)



Texto II

AS MENINAS DA GARE

Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis

Com cabelos mui pretos pelas espáduas

E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas

Que nós a muito bem olharmos

Não tínhamos nenhuma vergonha.

(Oswald Andrade – Poesia Pau-Brasil)



9. Assinale a alternativa que melhor explique as semelhanças e/ou diferenças entre os textos.

01. Os  textos são iguais, portanto não é possível estabelecer distinção ente eles.

02. Os textos guardam diferenças tênues percebidas pelo título. O primeiro é dirigido ao  rei de  Portugal e o segundo para as meninas da gare.

03. Os textos apresentam visões de mulheres brasileiras em tempos distintos. No primeiro são as inocentes índias no segundo as prostitutas da  estação de  trem.

04.. São diferentes porque foram escritos por pessoas  diferentes.

05. Oswald usa o texto de Pero Vaz para criticar a visão que os portugueses tiveram da  mulher brasileira.



Leia o texto:



"O Brasil surge e se edifica a si mesmo, mas não em razão do desígnio de seus colonizadores. Eles só nos queriam como feitoria lucrativa. Contrariando as suas expectativas, nos erguemos imprudentes, inesperadamente, como um novo povo, distinto de quantos haja, deles inclusive, na busca de nosso ser e de nosso destino. (...) Somos um povo novo, vale dizer um gênero singular de gente marcada por nossas matrizes, mas diferente de todas, sem caminho de retorno a qualquer delas. Esta singularidade nos condena a nos inventarmos a nós mesmos, uma vez que já não somos indígenas, nem transplantes ultramarinos de Portugal ou da África." (Ribeiro, Darcy. O Brasil como problema.1995.)

2. Sobre o texto e a Carta de Caminha é correto afirmar que o ponto de vista apresentado  é antagônico ou idêntico ao texto de Pero Vaz. Justifique. 

Leia  os  textos  do  livro  Mensagem  de  Fernando  Pessoa:



II. HORIZONTE

Ó mar anterior a nós, teus medos

Tinham coral e praias e arvoredos.

Desvendadas a noite e a cerração,

As tormentas passadas e o mistério,

Abria em flor o Longe, e o Sul sidério1

'Splendia2 sobre as naus da iniciação.

Linha severa da longínqua costa-

Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta

Em árvores onde o Longe nada tinha;

Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:

E, no desembarcar, há aves, flores,

Onde era só, de longe a abstrata linha.



O sonho é ver as formas invisíveis

Da distância imprecisa, e, com sensíveis

Movimentos da esp'rança e da vontade,

Buscar na linha fria do horizonte

A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte -

Os beijos merecidos da Verdade.

1 - sideral , celeste

2 - splendia - do verbo esplender, o mesmo que resplandecer, brilhar.



X. MAR PORTUGUÊS

Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!



Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.



Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu. 



10. Sobre  os  textos assinale a(s) alternativa(s) incorreta(s):

01. Pessoa refere-se  no  texto  I ao fato de o mar, antes dos portugueses estar cercado de mitos criados pelo homem medieval. E diz que o que antes era projeto tornou-se realidade. Então a conquista se realiza ampliando-se os horizontes da pátria.

02. Para Fernando Pessoa não foi  importante a capacidade dos portugueses de transformar "as formas invisíveis" "as distâncias imprecisas" em Verdade.

04. Um dos mais conhecidos poemas do livro Mensagem retrata os sacrifícios feitos pelo povo português para que o mar pudesse ser do seu povo. Em sua reflexão o autor responde ao grande questionamento "valeu a  pena?".

08. Passar além do bojador é ultrapassar o cabo que por muito tempo foi o limite entre o que se conhecia e desconhecia do mar. Assim, passar além do bojador é ultrapassar o inatingível e para isso é necessário ter em mente o quanto é difícil: “tem que passar além da dor”.

16.  Depois da glória veio a derrota portuguesa e esse texto vai marcar essas perdas. O mar agora é de todos e o reconhecimento de quem o possuiu já não existe.



PAÍS DO OURO

Todos têm remédio de vida

E nenhum pobre anda pelas portas

A mendigar como nestes Reinos.



11. Sobre  o  texto acima pertencente a Oswald Andrade pode-se afirmar:

01. Apresenta uma visão xenófoba do Brasil.

02. Tem caráter depreciador da forma governamental da época.

04. Exalta o modo de vida nas terras brasileiras.

08. É uma visão modernista de uma Brasil que não foi valorizado.

16. Critica o modo de vida presente na Europa.








12. . Sobre seus conhecimentos de Quinhentismo e a charge acima apresente uma reflexão baseada na seguinte afirmação:

“Não existe cultura inferior.”



 “Em sua formação, o Brasil é conhecido mundialmente pela sua diversidade cultural. As várias etnias que compuseram, e ainda compõem, a nação brasileira podem ser verificadas em todos os livros didáticos que contam a nossa história. Porém, no que diz respeito aos povos indígenas, essa pluralidade de povos e etnias sempre foi vista como uma ameaça à soberania nacional, fato este que orientou o Estado a promover políticas integracionistas visando a construção de um “ethos” (jeito de ser), onde toda essa diversidade étnica seria progressivamente substituída por uma identidade nacional.”



13. Assinale a alternativa que apresente um  texto que confirme essa visão:

a. “(...) porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios e temperados como os de Entre –Douro e Minho, porque neste tempo de agora os achamos como os de lá.”

b. “ Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse  as  suas vergonhas. Traziam nas mãos arcos e setas.”

c. “ De ponta a ponta é tudo praia redonda, muito chã e muito formosa.”

d. “ e imprimir-se-á  facilmente neles todo e qualquer cunho que lhes quiserem dar.”

e. “ eles passam de uma confraternização a  um retraimento, como pardais, com medo do cevadoiro.”



Canto IX – I Juca Pirama

O guerreiro parou, caiu nos braços

Do velho pai, que o cinge contra o peito,

Com lágrimas de júbilo bradando:

"Este, sim, que é meu filho muito amado!

E pois que o acho enfim, qual sempre o tive,

Corram livres as lágrimas que choro,

Estas lágrimas, sim, que não desonram".

(Gonçalves Dias. Poesias Americanas)

 14. Com relação à obra indianista de Gonçalves Dias, e sobre este poema em particular, assinale o que  não for correto.

01) O herói do poema não é apenas um índio tupi: representa todos os índios brasileiros ou ainda todos os brasileiros, uma vez que o índio foi durante o Romantismo o representante de nossa nacionalidade.

02) O poeta, ao pôr em discussão profundos valores e sentimentos humanos, como a bondade filial e a honra, supera os limites da abordagem puramente indianista.

03) O índio de Gonçalves Dias aproxima-se do de José de Alencar, não pela questão da autenticidade do índio, mas por ser poético, e por trazer em sua cerne elementos como heroísmo, dignidade, generosidade, bravura, maldição e tradição. Na tentativa de, a partir dele, construir o herói nacional.

04) Quanto aos aspectos formais, em "I-Juca-Pirama" Gonçalves Dias variou a métrica de trecho em trecho. Teoricamente, o poeta teria desprezado a metrificação. No entanto, do ponto de vista expressivo, a variação métrica utilizada produz a iconicidade sonora do texto, construindo plasticamente o poema como um significante rítmico do ritual narrado.

05) I Juca Pirama significa "aquele que é digno de ser morto"; o poema conta a história de um guerreiro tupi, aprisionado pelos Timbiras, que morre em um festim canibal.



“Tu choraste em presença da morte?

Em presença de estranhos choraste?

Não descende o cobarde do forte;

Pois choraste, meu filho não és!

Possas tu, descendente maldito

De uma tribo de nobres guerreiros,

Implorando cruéis forasteiros,

Seres presa de vis Aimorés.

Possas tu, isolado na terra,

Sem arrimo e sem pátria vagando,

Rejeitado da morte na guerra,

Rejeitado dos homens na paz,

Ser das gentes o espectro execrado;

Não encontres amor nas mulheres,

Teus amigos, se amigos tiveres,

Tenham alma inconstante e falaz!”



15. O trecho do poema “ I-juca pirama” refere-se ao momento em que o filho guerreiro volta para a sua tribo e se encontra com seu pai após ter pedido ao líder da tribo inimiga, pela qual havia sido capturado, que o poupasse da morte para que pudesse cuidar de seu pai amado, muito velho, até este morrer. Pensando nos valores defendidos pelo Indianismo romântico no Brasil, pode-se dizer que a reação do pai ocorre porque o filho:

01) considerou-o um velho incapaz, evidenciando que não o amava de forma digna.

02) demonstrou fraqueza diante da morte, o que representava falta de dignidade.

03) usou-o como desculpa para escapar da morte, ou seja, não possuía nobreza de sentimento.

04) havia sido capturado pelos inimigos, tornando-se incapaz de continuar a ser um guerreiro.

05) era, na verdade, descendente de outra tribo, o que o tornava impuro para conviver entre eles.



16. Pode-se afirmar que noções como “fraqueza”, “não dignidade”, “falta de nobreza”, “impureza” são renegadas na poética romântica indianista no Brasil. Isso ocorreu devido:

01) à necessidade de se desenvolver e moldar o sentimento de nacionalismo no Brasil da época, que acabava de se tornar independente.

02) à tentativa de compensar os índios mortos pelos primeiros colonizadores europeus, resgatando seus valores primitivos.

03) ao fato de os escritores da época se oporem à corrente do “mal do século”, com seu sofrimento amoroso e culto à idealização.

04) ao desejo de se igualar as principais raças do Brasil da época: portugueses (nobreza), negros (força) e índios (dignidade guerreira).

05) ao esforço de se criar um movimento literário forte, que anulasse os escritores árcades, com suas tentativas fracassadas de independência.



Canção do exílio



Minha terra tem palmeiras, / Onde canta o Sabiá;

As aves, que aqui gorjeiam, / Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas, / Nossas várzeas têm mais flores, / Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores. / Em  cismar, sozinho, à noite,

Mais prazer eu encontro lá; / Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá. / Minha terra tem primores,

Que tais não encontro eu cá; / Em cismar –sozinho, à noite–

Mais prazer eu encontro lá; / Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá. / Não permita Deus que eu morra,

Sem que eu volte para lá; / Sem que disfrute os primores / Que não encontro por cá; / Sem qu'inda aviste as palmeiras,

Onde canta o Sabiá. 

17.  O texto acima pertence à Primeira Geração - indianista /nacionalista a que pertence Gonçalves Dias, autor de I Juca-pirama. Explique de que maneira esse texto também serve à causa da afirmação da nacionalidade brasileira.



18. Todas as características enunciadas a seguir pertencem à obra de ficção de Machado de Assis, exceto:

a) Preocupação em analisar o mundo interior das personagens.

b) Sondagem dos motivos secretos do comportamento humano.

c) Visão pessimista e desencantada do relacionamento humano.

d) Análise do comportamento humano sempre à luz das teorias deterministas.

19. (UNEB-BA) Considere os seguintes fragmentos:

I. Combinam-se personagens e interesses com o exclusivo objetivo do casamento: é assim que a ideologia burguesa acaba por condicionar as conveniências de classe, mal disfarçadas pelo idealismo com base em virtudes abstratas, assumido pelo escritor.

II. Estruturalmente, a forma do romance busca renovação: a intriga cede lugar à análise psicológica ou social, com vistas ao conhecimento das causas profundas do comportamento seja do indivíduo, seja da classe a que pertence.

III. Empresta-se um verniz medieval às façanhas de nossos nativos, como se a civilização précabralina constituísse nossa gloriosa Idade Média.

As afirmações

a) I e II referem-se à prosa realista, e III, à romântica.

b) I refere-se à prosa romântica, e II e III, à realista.

c) I e III referem-se à prosa romântica, e II, à realista.

d) I refere-se à prosa realista, e II e III, à romântica.

e) I e III referem-se à prosa realista, e II, à romântica.



20.  Das afirmações abaixo, assinale a única que pode ser considerada correta quanto ao Realismo.

a) Apesar das intenções criticas, acabou fazendo a apologia da família burguesa e do catolicismo.

b) Desenvolveu uma literatura voltada principalmente para os problemas rurais, denunciando o abandono e a pobreza do interior do Brasil.

c) Criou o romance regionalista, exaltando a vida no interior do país e valorizando as raízes nacionais.

d) Procurou analisar com objetividade e senso crítico os problemas sociais e humanos.



21. Com relação ao Naturalismo, é válido afirmar que:

a) Acentua a influência do meio ambiente para ressaltar que o ser humano é capaz de superá-la e criar seu próprio modo de vida.

b) Destaca bastante o papel do meio social e dos caracteres hereditários na explicação do comportamento humano.

c) É oposto ao Realismo, pois julga que a literatura não deve se preocupar com problemas sociais.

d) Demonstra grande preocupação em analisar o ser humano do ponto de vista estritamente psicológico, isolando-o do meio social.



22 (UFPE) É incorreto afirmar que, no Parnasianismo:

a) a natureza é apresentada objetivamente;

b) a disposição dos elementos naturais (árvores, estrelas, céu, rios) é importante por obedecer a uma ordenação lógica;

c) a valorização dos elementos naturais torna-se mais importante que a valorização da forma do poema;

d) a natureza despe-se da exagerada carga emocional com que foi explorada em outros períodos literários;

e) as inúmeras descrições da natureza são feitas dentro do mito da objetividade absoluta, porém os melhores textos estão permeados de conotações subjetivas.



23. (ITA-SP) Assinale a alternativa

que caracteriza o Romantismo:

a) valorização do eu. O assunto passa a ser manifestado a partir do artista, que traz à tona o seu mundo interior, com plena liberdade; esta liberdade se impõe na forma. Sentimentalismo.

b) literatura multifacetada: valorização da palavra e do ritmo: temática humana e universal.

c) literatura intrinsecamente brasileira; linguagem direta, coloquial, livre das regras gramaticais, imagens diretas; inspiração a partir da burguesia, da civilização industrial, da máquina.

d) literatura que busca inspiração no subconsciente, nas regiões inexploradas da alma: para isso, usa meios indiretos a fim de sugerir ou representar as sensações; funde figura, música e cor.

e) literatura que visa à perfeição da forma, à objetividade, ao equilíbrio, à perfeição absoluta da linguagem; prefere os temas novos e exóticos.





Cárcere das almas

Ah! Toda a alma num cárcere anda presa,

Soluçando nas trevas, entre as grades

Do calabouço olhando imensidades,

Mares, estrelas, tardes, natureza.

Tudo se veste de uma igual grandeza

Quando a alma entre grilhões as liberdades

Sonha e, sonhando, as imortalidades

Rasga no etéreo o Espaço da Pureza.

Ó almas presas, mudas e fechadas

Nas prisões colossais e abandonadas,

Da Dor no calabouço, atroz, funéreo!

Nesses silêncios solitários, graves,

que chaveiro do Céu possui as chaves

para abrir-vos as portas do Mistério?!

CRUZ E SOUSA, J. Poesia completa. Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura /

Fundação Banco do Brasil, 1993.

24. Os elementos formais e temáticos relacionados ao contexto cultural do Simbolismo encontrados no poema Cárcere das almas, de Cruz e Sousa, são

A) a opção pela abordagem, em linguagem simples e direta, de temas filosóficos.

B) a prevalência do lirismo amoroso e intimista em relação à temática nacionalista.

C) o refinamento estético da forma poética e o tratamento metafísico de temas universais.

D) a evidente preocupação do eu lírico com a realidade social expressa em imagens poéticas inovadoras.

E) a liberdade formal da estrutura poética que dispensa a rima e a métrica tradicionais em favor de temas do

cotidiano.

O texto de Cruz e Sousa explora um tema universal — o do sofrimento humano — de forma abstrata e

metafísica: apresenta a alma humana como encarcerada em “prisões da Dor”. A forma poética escolhida pelo

autor também demonstra refinamento, já que o soneto é uma forma consagrada pela literatura clássica. O caráter

vago e o uso de maiúsculas sem necessidade gramatical também apontam para aspectos típicos do Simbolismo,

estética a que o poema pode ser associado.



Leia o texto:



Neste mundo é mais rico, o que mais rapa:

Quem mais limpo se faz, tem mais carepa:

Com sua língua ao nobre o vil decepa:

O Velhaco maior sempre tem capa.



Mostra o patife da nobreza o mapa:

Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;

Quem menos falar pode, mais increpa:

Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.



A flor baixa se inculca por Tulipa;

Bengala hoje na mão, ontem garlopa:

Mais isento se mostra, o que mais chupa.



Para a tropa do trapo vazo a tripa,

E mais não digo, porque a Musa topa

Em apa, epa, ipa, opa, upa. ( Gregório de Matos)





25. Sobre o texto pode-se afirmar:

a) Pertence à sátira gregoriana e tem a pretensão de tecer críticas a Igreja que rouba e usurpa a liberdade dos que, no século XVIII, pretendiam não ser nobres.

b) Crítica a sociedade de aparências do século XVII que era regida por valores como riqueza em detrimento da nobreza de caráter e explica como quem mais rouba não consegue se firmar socialmente.

c) O texto, construído em forma de soneto, deixa claro, no último terceto, que o autor teria muito mais a dizer sobre a sociedade, mas a poesia (Musa) termina porque sendo o soneto uma forma fixa, possui apenas dois quartetos e dois tercetos.

d) “A flor baixa” no texto é uma sugestão dos que pertencem as camadas menos nobres da sociedade que aparentam ou querem ser da alta sociedade entendida com “tulipa”. Isto se dá por causa da forte mobilidade social do século XVII proposta em “bengala hoje na mão, ontem galorpa”.

e) No trecho “ com a sua língua ao nobre o vil decepa” poderia ser reconstruído sem a perda do sentido assim: o nobre decepa o vil com a sua língua.





Extra :



O “Contrato Social”, escrito em 1 762, por Jean-Jacques Rousseau inspirou nos revolucionários franceses as idéias de soberania popular e de igualdade de direitos.


“A soberania não pode ser representada pela mesma razão por que não pode ser alienada; consiste essencialmente na vontade geral e a vontade absolutamente não se representa. E ela mesma ou é outra, não
 há meio termo. Os deputados do povo não são, nem podem ser seus representantes; não passam de comissários
seus, nada podendo concluir definitivamente. É nula toda a lei que o povo diretamente não retificar. O povo inglês pensa ser livre e muito se engana, pois só o é durante a eleição dos membros do parlamento; uma vez estes eleitos, ele é escravo, não é nada. Durante os breves momentos de sua liberdade, o uso que dela faz, mostra que merece perdê-la.”


1. Com base no texto, pode-se afirmar:

I. A soberania pode ser representada, porque é uma vontade geral.

II. A vontade não pode ser representada.

Ill. Somente os deputados podem representar a vontade do povo.

IV. Sem a aprovação e correção do povo, as leis perdem a sua validade.

Estão corretas

a) apenas I e IV.

b) apenas II, III e IV.

c) apenas II e IV.

d) apenas I e III .

e) apenas II e III.





Juca – Pirama / Periodização – Gabarito

1. a) “ Alteiam-se os tetos d´altiva nação.”, “São rudos, severos, sedentos de glória”, “São todos Timbiras, guerreiros valentes!”

b) Que os Timbiras são conhecidos por entre as pessoas.

Quem é? — ninguém sabe: seu nome é ignoto,

Sua tribo não diz: — de um povo remoto

Descende por certo — dum povo gentil;

Assim lá na Grécia ao escravo insulano

Tornavam distinto do vil muçulmano

As linhas corretas do nobre perfil.

2.  Na cena do ritual de sua morte Juca apresenta-se como aparentemente pacífico, chegando a ser tomado como pertencente a um povo não conhecido pelos Timbiras. Ao longo da epopeia porém,  revela o contrário: Pertence a uma tribo guerreira denominada de Tupi que foi destruída pelos Timbiras e o motivo de sua aparente passividade relaciona-se ao desejo de permanecer vivo – rompendo a regra do ritual antropofágico – para cuidar de seu pai fraco e cego.

3. O texto proposto deixa claro que para o grupo social que aprisiona Juca Pirama morrer é bom. E, ser comido pelos seus pares, uma honra, uma vez que vai ser perpetuado entre os demais. Para nossos olhos culturais a visão de morte não é tomada como algo que comemoramos, tão pouco nos parece normal comer a carne de nossos semelhantes.

4. Juca afirma ter nascido e crescido nas selvas e ser descendente de uma tribo outrora guerreira que hoje, destruída, vive errante. Associa isso ao destino. Diz também ter experiência de guerra, já ter caminhado muito e ter perdido amigos, inclusive o seu melhor que morreu ao seu lado em uma batalha. Quando foi aprisionado  cuidava do pai fraco e cego e termina o canto pedindo para que ele seja libertado para cuidar de seu pai propondo que  quando ele morrer retornaria para cumprir sua sina. É importante ressaltar que faz isso entre lágrimas.

5. A base da literatura/história indígena é oral. As línguas indígenas são quase todas, ágrafas, portanto as histórias têm suas bases em contadores. Isso justifica a importância do narrador - o velho timbira que aparece no último canto afirmando que se trata de uma história verídica “eu vi” e está contando para uma geração mais nova traduzida por “meninos”.

6. I-Juca-Pirama, composição épico-dramática de configuração plástica e musical que o aproxima do bailado, em que Gonçalves Dias utiliza-se o português arcaico com o intuito de atribuir ao texto um valor estético. Pode-se perceber também, uma composição métrica variada – redondilhas, decassílabos e alexandrinos – e da musicalidade acompanhando a narrativa. Assim o autor propõe  versos curtos para o ritual de morte do índio e versos longos para demonstrar a fala compassada do pai.

7. “Ele chorou de cobarde”;

8. O índio Gonçalviano é dotado de uma beleza física, bravura e moral. Talvez, este modelo, é o ideal simbólico do homem da nova nação emergente - Brasil. Na obra I Juca-Pirama, composta por Cantos, observa-se a exaltação da figura indígena com a caracterização de diversos adjetivos que demonstram sua força e coragem. Além disso, a ausência do medo diante da morte em um ritual antropofágico e sua bravura numa batalha confirma o seu aspecto heroico.

9. 03  10. 02+16 11. 04 + 08 +16

12. A viagem dos portugueses ao nosso continente desembocando na descoberta do Brasil trouxe em seu bojo a morte física e cultural das nações indígenas porque foram tomadas como seres sem cultura a quem poderia imprimir-se tudo - segundo o relato de Caminha em sua carta a El Rei. Não dar conta de que diferença não são defeitos e que existem múltiplos modos de vivências, custou a vida de milhares de índios que, por não submeter ao modo religioso, alimentar ou de trabalho foram dizimados de suas terras.

13. d 14. 05 15. 02  16.  01

17.  I Juca –Pirama, construído para a exaltação dos indígenas no projeto de construção do herói nacional é um dos poemas escritos por Gonçalves Dias -  autor pertencente à primeira geração romântica que trazia como égide a construção de uma nação e a  literatura estava a serviço dessa causa. Assim, o poema acima, construído quando o autor estava em Portugal, exalta a terra Brasil em seus elementos e serviu de inspiração também para o  hino nacional ao propor que nossa natureza  é maior e melhor que a de outros lugares “tem mais vida” e que sentimos mais que qualquer gentes  “nossa vida mais amores”.



18. d) 19 c) 20 d) 21. b) 22. c) 23. a) 24.  c) 25. c) Extra: c)























































[1] O que há de  ser morto. O  que é digno de  ser morto.
[2] Observe  que o autor, consciente que  os leitores não conhecem o ambiente, antes de  apresentar os “atores” apresenta o local. Tente transpor em suas  palavras como seria esse  lugar.
[3] Fica  famoso. Conhecido
[4] Observe que há índios pacíficos e guerreiros, não correspondendo à  primeira impressão que  teve  Caminha. No  Quinhentismo.
[5] Tente perceber  como os Timbiras são apresentados no livro e perceber que essa valentia é apresentada no Quinhentismo por escritores que vieram depois de  Caminha, como Hans Staden.
[6] Corda que prendia o prisioneiro.
[7] Fraldão de penas
[8] Lembrar-se que o prazer tem uma relação com a concepção para a morte do prisioneiro.
[9] Observe que a atitude do guerreiro não condiz  com o ritual e depois saberemos o motivo.
[10] Essa é uma das muitas expressões que remetem a antropofagia  do texto.
[11] Além dessa , existem outras expressões que  demonstram o prazer  com a morte. Tente localizá-las.
[12] Observe que a resposta para esses questionamentos é o canto IV. Leia tendo em mente que você precisa  responder: O que ele diz sobre  si mesmo? Qual é a sua história?
[13] A supressão dessa e de  algumas sílabas ( na verdade português arcaico) no texto tem caráter meramente estético. Não nos esqueçamos que além da  preocupação  com a  história, Gonçalves  Dias também produz  um poema  com variados  cantos que se relacionam com a narrativa. Inclusive na questão sonora. Pesquise um pouco sobre o assunto. Há muita musicalidade haja visto o título [ Cantos ] por isto esteja atento para as medidas poéticas [ decassílabos e alexandrinos ] isto poderá ser tema de questão no vestibular. Lembre-se porém que  a marca do Romantismo é a liberdade formal e que essa forma poética não se aplica a todos os românticos.
[14] Não para guerrear, mas para encontrar alimento para o pai.
[15] A presença do Deus cristão e  não de Tupã só  comprova que há no texto o índio, mas  o autor, como a maioria  dos  românticos  da  época, reproduzem o herói medieval cheio de  valores  como ética, respeito à família, religião cristã...
[16] Ele  diz não  ter vergonha do seu pranto, mas  seu choro envergonha a tribo Timbira e  seu pai.
[17] Turba era a multidão de índios que nunca tinham visto algo semelhante.
[18] Vale  lembrar que o motivo que fez o chefe soltá-lo não foi  comoção. Ele não queria “ com carne vil” enfraquecer  os fortes.
[19] Essa medida de  tempo é usada pelo pai porque é  cego.
[20] cabelos
[21] Na morte do filho, outro índio cuidaria dele. Perceba que o pai não está aqui revelando desamor pelo filho, mas honrando uma prática cultural de  sua  tribo. Assim  como em Caramuru – a invenção  do Brasil  faz Paraguaçu e  Moema.
[22] Na leitura desse canto tente propor pelo menos uma lista de dez maldições pregadas pelo pai. Eu começo: ser rejeitado, não  ter  amor, não ter amigos leais...
[23] O pai também chora, mas  seu choro não envergonha. Porque chora  porque agora seu filho “é digno de  ser morto.”
[24]  Além de nos apresentar o narrador da história, traz  autenticidade a ela. Quem  conta, conta  uma  história verdadeira.

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